Yásnaya Aguilar, desde terras mixe ao norte de Oaxaca, conta que o seu tataravó, antes de morrer dunha epidemia desconhecida que concorria com altas febres e que ficou conhecida como jëën pä’äm, a enfermidade do fogo, legou-nos ao futuro umha história1. Umha história real, umha história da que aprender.
Ao tataravó lhe contarom de neno que durante umha grande epidemia que assolara essa regiom, umha das famílias decidiu que a melhor maneira de frear o contágio era escapar a um lugar remoto levando consigo todo o milho e alimentos disponíveis. O que escapou do seu razoamento é que levarom consigo, ademais dos alimentos roubados à comunidade, a enfermidade. Quando esta fêz-se presente com as suas febres de fogo, todos os membros da família escapista pereceram sem receber ajuda. Nom houve quem lhes puidera achegar água fresca para baixar a febre ou quem lhes confortasse nas horas finais. Mesmo nom tiverom quem puidera dar-lhe sepultura umha vez realizada a última viagem. Polo que o anciao, o tataravó de Yásnaya, antes de morrer advertiu às geraçons futuras: non vos enganedes, nom caiades nessa mentira. O bem individual depende do bem coletivo.
Atopamo-nos no fim de outro ano marcado pola pandemia. Preocupa-me o feito de que além de novas variantes do vírus, o que se espalha é umha maneira de estar na vida marcada pola distância, polo individualismo, por tentar salvar-se cada quem pola sua conta. Som tantas mensagens e tamanho o apelo a fortalecer essa forma de ser, que as vezes faz-se-me difícil escapar dela, depurá-la.
Por isso, num momento histórico tam convulso, beber da sabedoria dos povos originários, que passarom já por tantas calamidades e epidemias e continuam avida, nom só a das suas comunidades senom a vida dos bens naturais que nos rodeiam, é para mim antídoto e medicina.
Na práticas e saberes das comunidades ancestrais está a raíz do princípio biocêntrico. A vida segue o seu curso e dita as suas próprias leis. Umha delas é a da interdependência. Necessitamo-nos.
O abraço segue a ser umhas das formais efetivas de manter o nosso sistema imune ativo. A co-escuta compassiva desde sempre ajuda a calmar as nossas angústias. Mover-nos ao som dumha música alegre desperta sensaçons de esperança e de leveza. Brindar-nos apoio segue a ser umha das maneiras mais autênticas de dar significado à nossa existência. Construir projetos comuns, por mais pequenos que sejam, faz-nos mais fortes.
Desejo que neste novo ano poidas seguir explorando outras formas de ser e de (com) viver que te situem no caminho dumha vida com significado, com plenitude. Com abundância de afetos e abraços. Com a alegria serena de partilhar o que se tem. Com motivaçons profundas para seguir na tua travessia e num caminho comum cara a justiça social e a felicidade humana.
Que a janela da vida esteja aberta para ti neste 2022. Que te mostre cada dia que fora temos muito do que aprender e desfrutar. Que a natureza te inspire.
E que esta cançom te dê alento e guiança: Seres Extraños – Perotá Chingó
1Esta historia está belamente narrada no texto “ Jëën pä’äm, la enfermedad del fuego” que forma parte del libro “Todo los que nos queda es (el) ahora, textos com corazón y dignidad sobre la pandemia de nuestro tiempo”. VVAA, editado por La Reci.