Algumha gente pergunta-me que é “educaçom para o bom viver,” umha das ramas do projeto Biodanza Cheia de Vida.
Ainda que aqui trato de explicar com detalhe, sinto que a melhor forma de visualizar essa proposta ou marco socioeducativo é através de atividades concretas. Atividades como esta que facilito o sábado 26 de setembro dentro do Espazo de Formación Antirracista Diverxentes, um projeto de Sos Racismo Galicia e coordenado pola admirada Sonia Mendes, com quem terei o prazer de partilhar a jornada.
Depois de meses practicamente sem atividade presencial com Biodanza, chegamos ao arranque deste novo curso com as incertezas e os medos à flor de pele. Os que sinto à minha volta e também os meus próprios.
Já nom me identifico com discursos que negam o medo e que o confrontam com imaginários (supostamente desejáveis) de afouteza e ousadia. O medo é umha emoçom útil como todas as demais. O medo vai ligado ao nosso instinto de sobrevivência e à nossa condiçom de seres vulneráveis. Já nom aspiro a nom ter medo. Desejo poder escutar a sua mensagem, extrair a sua essência e fazê-lo manejável. Algo com o que poida conviver de forma amigável. Escutá-lo com toda a ternura e a compreensom que poida ofrecer-lhe, mas tratando que nom me paralise.
Por isso decido voltar a convocar sessons presenciais de Biodanza. Porque o contrário seria para mim estar presa do medo. Seria desatender o que me diz a intuiçom profunda e a minha leitura sobre o estado da corporalidade das pessoas nesta altura. As emoçons tam intensas que vivemos e que ainda estamos a viver estam a impactar profundamente a psicomotricidade, a vitalidade e a expressividade da gente. Vejo corpos rígidos, doloridos, opacos. Vejos movimentos desintegrados, olhares esquivos, um estar no corpo ansioso ou apático. Percebo como este estado que se quer fazer passar por “normalidade” está a filtrar-se na relaçom das pessoas consigo mesmas e com as demais.
Estas semanas fiz um descubrimento. Ou melhor, assentei e resignifiquei algo que sei há algum tempo com as células, mas que ainda nom chegara à consciência.
Sou umha pessoa que convive com umha escoliosis desde pequena. Toda a vida escutei a profissionais da traumatologia dar-me a receita de como prever contraturas lumbares e estar dias dolorida: higiene postural, exercício, fortalecer a musculatura na que se sustenta a coluna. Depois de anos habitando esta casa que é o meu corpo, descobri algo mais. Algo que me está ajudando a entender-me e a situar-me neste momento porque levo duas crises em quinze dias.
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente.” Maurício Francisco Ceolin
Hoje a chuva escampou depois de dias caindo forte. Saiu um raio de sol chamando ao passeio, a respirar o ar húmido e renovador. Levava ânsia de terra e de verde nos olhos. Tudo ao redor parecia empapado por umha magia diferente essa tarde. O parque de sempre semelhava umha fraga misteriosa e nutricia. E de súpeto vim-na.
Nas hortas que dam colorido e alimento ao bairro vim medrar esta árvore. Conhecim-na quando ainda era feble e desajeitada. Em dias de invernia mesmo parecia que se quebraria com algumha rajada de vento. Nom dava sombra, nom chamava demasiada atençom. Era umha árvore mais.
Um lar é muito mais que umha casa. Para além da estrutura que tem e das prestaçons que oferece, um lar está empapado de elementos subjetivos que apelam à segurança e aos afetos. É um espaço para sentir-se à gosto e ao que podes convidar outras pessoas e cuidar de que também elas sintam-se bem. Porque àquilo que partilhamos saboreia-se com mais prazer, com mais satisfaçom.